sábado, 1 de agosto de 2015

Aos Setenta


Eu conto os meses para chegar aos setenta anos! Idade linda, de muito respeito e muitas histórias.
Quero celebrar com muita festa, com direito a bolo, champagne e valsa!
Ainda dançando como os anos dourados.
Não haverá Sjögren que quebre minha história. Todo dia ele me ataca e eu lhe dou uma boa paulada na cabeça. Ele se recolhe para armar outro ataque. Mas nano haverá de me dobrar.
Não ligo para as rugas, elas contam minha vida. E nem mesmo ligo para as marcas que Sjögren criou no meu rosto. Estas marcas me tornam misteriosa, um lado do rosto é vida o outro meio acometido de marcas. Uma boa base e pó de arroz haverão de disfarçar.
Quero chegar aos setenta mesmo de bengala, sapatos ortopédicos, não importa.
Neste dia, o próximo 5 de maio, ainda falta tempo, quero acordar com os filhos e netas cantando parabéns tal como era na minha infância, quando a aniversariante fazia que estava dormindo e esperava ser acordada com uma fila dos outros cantando parabéns. A gente até decorava versinhos para acordar mamãe ou para acordar papai.
Quero a família e os amigos juntos. Não precisa ser uma festa de muita pompa, basta que estejamos todos celebrando.
Sjögren anda me atazanando, destruindo minhas unhas, besteira, eu usarei luvas e um vestido bem comprido para esconder meus pés.
Se ele pensa que vai tirar de mim a vontade de viver, ele está muito enganado. A Lua Azul bem que me contou, eu tenho amor no coração.
Os sonhos salvam!
Sei que antes mesmo dos setenta eu sou uma mulher de cristal. Tenho os ossos de cristal. Mas minha cristaleira está cheia de cristais todos inteirinhos. É só não cair na calçada. E se cair, fazer o que, consertar.
Conversei da minha torre com a Lua do céu e a Lua do mar, na noite da Lua Azul, mas não pedi asas para voar ao céu como Ismália,  e sim pés para fincar na terra.
Quero chegar aos setenta contando histórias para minhas netas, sonhando, amando, vivendo, mesmo que seja aos trancos e barrancos.
E não posso reclamar da minha vida porque vivi e muito e ainda quero viver e muito. Literalmente pintei e bordei.  Tenho muito para contar. Escreverei cartas para distribuir, será! Mas eu só sei escrever cartas de amor...
De dia brigo com meus diabinhos que me atentam. De noite sonho com os anjos! E vou vivendo, porque o tempo passa sem olhar para trás e não há de passar outra vez.
Faltam 10 Luas para chegar aos setenta.




2 comentários:

Unknown disse...

Recebi um lindo comentário de Maria Beatriz - que está imediatamente convidada para esta festa

Unknown disse...

Você pode comentar porque eu vou gostar de saber!