domingo, 22 de agosto de 2010

Carta

Querido
Afinal cheguei na minha varanda! Tanto tempo... Levei a cadeirinha de balanço para nela sentar e olhar o mar. Você lembra da cadeirinha em que tanto sentou, balançando com sua camisa listrada, contando histórias? Da minha varanda eu abraço o horizonte, o mar que vai e volta, quando vai leva todas as minhas dores nas suas águas cinzentas, quando volta cheio de águas azuis, vem carregado de lembranças, tantas lembranças...
Já é noite alta e o mar sereno me trouxe você, tão completo, tão perfeito! Lembro o quanto lhe amei, ou mesmo lhe amo! E aqui estou lhe escrevendo.
Quero lhe contar que meus cabelos estão mais brancos, minha cintura já não sé mais tão fina, mas meu coração continua o mesmo, cheio de sonhos!
Está tão frio, vou entrar, durma bem, volte logo...

segunda-feira, 15 de março de 2010

Ontem

O tempo vai passando tão depressa mas tem momentos da vida que nunca são esquecidos e engolidos pela força do tempo. Momentos que são guardados na memória como cenas de um filme, quadro a quadro, com detalhes tão precisos e preciosos que nos levam até a sentir o perfume daquelas cenas. Assim foi ontem, 14 de março, 51 anos atrás, eu tão menina! Lembrei das sandálias que calçava, da saia vermelha de pregas, e de ficar invisível quase três dias inteiros, nos tempos em que os mortos morriam em casa, e meu pai seguiu na tradição, de vela na mão e padre, médicos, parentes e amigos assustados, ele assim tão jovem! Dois dias de agonia e um de velório e um funeral. Então ontem, porque era 14 de março, ou por qualquer outra razão, lembrei como se tivesse acontecido na véspera, ouvi os sons e até senti o perfume de flores e velas. Lembrei os rostos, os choros, o vozerio de muitos sussurros juntos, o cachorrinho assustado, a cozinha cheirando a café. Lembrei o copo de água que um primo me levou ao me achar num canto esquecido do quintal. E, mais aguda do que todas as lembranças, lembrei o vazio que ele deixou e a saudade do futuro que ele não conheceu, a força da viúva, as filhas crescidas, os netos e até bisnetos.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Carnaval

Não sei de onde vem esta nossa tradição de fazer, e comer, filhós durante o Carnaval. Tantos e tantos anos atrás e tinha corso, muito divertido, em pleno sol de meio-dia, que se estendia até cerca de 4 horas da tarde. Pausa para o descanso e de noite o Carnaval seguia nos clubes. Para mim o Clube Internacional. E, naquele pequeno intervalo de descanso, eu fazia filhós, todos na família faziam filhós, em cada casa. Querem a receita? Tudo muito simples, depois do advento das batedeiras elétricas, pois que naquela época era mesmo na mão. Ferva meio copo de leite com meio copo de água, sal e uma colher de sopa de manteiga.Quando abrir fervura jogue um copo de farinha de trigo e mexa com vigor para ter uma massa lisa. Deixe esfriar um pouco e junte 4 ovos, um a um, batendo bem a cada adição. Numa panela funda coloque um litro de óleo ( tem que ser óleo bom ou então a própria banha) e deixe esquentar bem. Faça pequenas bolas da massa usando duas colheres de chá colocando no óleo quente. Use fogo médio e deixe que os bolinhos demore fritando para que cozinhem por dentro. Sirva com uma calda de açucar em ponto de fio perfumada com baunilha.
Pois não é que está me dando um grande desejo de fazer filhós?

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Uma Carta

Eu queria apenas escrever tão simplesmente uma carta.
Daquelas que se faz com uma caneta, uma folha de papel talvez perfumada, depois envelope e selo, endereço, simples como uma carta qualquer.
Mas não tenho uma caneta, nem uma folha de papel e nem ao menos um endereço.
E então só resta o código binário, fiel amigo e companheiro, guardião das decisões, tão simples no seu 1 ou 0, tão infinitamente imenso nas suas infindas combinações.
Mas uma carta amiga, sem amargas desilusões, sem requintados versos, sem suspiros, promessas ou sonhos.
Apenas uma carta dizendo que todos estão bem, andam pela casa e fazem barulho, brincam, trabalham, riem e choram.
E eu, as vezes, me faço invisível, escondendo olhos apreensivos, mãos trêmulas, disfarçando a voz meio embargada.
As vezes olho pelo espaço imenso da minha varanda, repasso a vida que passou pelo meu palco, momentos vividos, largados, instantes da minha história, as vezes intensos, as vezes contando os segundos do tempo, as vezes cantando, as vezes sofrendo, nem sempre amando, sempre sonhando.
E vejo o tempo passar pela varanda como uma leve nuvem, as vezes ligeira, as vezes mais densa, as vezes lenta, as vezes quase pairando sob o céu infinito ou sobre o mar imenso, maior do que o tempo, tão breve a vida.
Um abraço
Luciana

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Hoje

Hoje é apenas mais um dia de um janeiro qualquer! No entanto mais um começo ainda não sei bem por quê ou mesmo para quê! Está na moda os blogs, técnicos, de relacionamento, poéticos, contos. Assim cada um vai aumentando a nuvem que nos consome os dias em quartos fechados, olhando telas luminosas. Onde estão os coretos, os jardins, os passeios nas calçadas? Perdidos no correr da vida, deixaram saudades, mas quem disse que os dias atuais não são melhores? É bom escrever assim solta, pois que não conto contos nem casos, mas vai chegar o dia em que contarei os contos escondendo os casos ou mesmo casos para contar os contos. Ainda terá um dia em que escreverei receitas, bolos, doces, carne de panela se bem que também poderá ser a receita do sapatinho de tricot que dá certo. É só.