terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Uma Carta

Eu queria apenas escrever tão simplesmente uma carta.
Daquelas que se faz com uma caneta, uma folha de papel talvez perfumada, depois envelope e selo, endereço, simples como uma carta qualquer.
Mas não tenho uma caneta, nem uma folha de papel e nem ao menos um endereço.
E então só resta o código binário, fiel amigo e companheiro, guardião das decisões, tão simples no seu 1 ou 0, tão infinitamente imenso nas suas infindas combinações.
Mas uma carta amiga, sem amargas desilusões, sem requintados versos, sem suspiros, promessas ou sonhos.
Apenas uma carta dizendo que todos estão bem, andam pela casa e fazem barulho, brincam, trabalham, riem e choram.
E eu, as vezes, me faço invisível, escondendo olhos apreensivos, mãos trêmulas, disfarçando a voz meio embargada.
As vezes olho pelo espaço imenso da minha varanda, repasso a vida que passou pelo meu palco, momentos vividos, largados, instantes da minha história, as vezes intensos, as vezes contando os segundos do tempo, as vezes cantando, as vezes sofrendo, nem sempre amando, sempre sonhando.
E vejo o tempo passar pela varanda como uma leve nuvem, as vezes ligeira, as vezes mais densa, as vezes lenta, as vezes quase pairando sob o céu infinito ou sobre o mar imenso, maior do que o tempo, tão breve a vida.
Um abraço
Luciana

Nenhum comentário: